quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Eu, Você e um Violão

Eu, Você e um Violão

Eu sabia que aquilo que fizemos não era o certo. E, sim, não foi. Mesmo com as brigas entre os festivais, eu ainda via um brilho em seu olhar quando contemplava minhas inseguranças. Sim, você estava em meio a milhares de luzes, mas mesmo assim, eu ainda sentia que aquele vigor que florescia era também por mim.
            Lembro-me desde o começo. Nos tempos em que não nos conhecíamos, e que você ainda não era a minha canção.           
No começo era só eu, você e um violão.
Éramos nós, um sonho na cabeça e um amor no coração. Éramos um só propósito, pedindo a Deus um único destino. Sentia que aquilo tudo era apenas o prelúdio, e em meu intimo, a nossa vitória seria alcançada. Quando sentia meus pelos arrepiarem a cada oração, ao contemplar cada estrela brilhante no céu escuro e me imaginar um dia iluminada pela multidão, como a estrela de um palco que eu tanto batalhara para conseguir. Quando ficávamos frente a frente, sentados no chão daquele ambiente alugado nos fundos de um bar, eu também sentia que tudo aquilo serviria de esforço para o que estava por vir.
            Éramos a dupla mais famosa da internet, nossos vídeos passaram a bombar e começamos a ser reconhecidos nas ruas. Eu me lembro quando andávamos sozinhos de mãos dadas nas ruelas de nossa pequena cidade, quando sentávamos nas montanhas e observávamos o horizonte. E você sorria para mim, o sol resplandecendo atrás de seu olhar, que mais uma vez me fitava com amor e com o peito arfando de felicidade, como se eu fosse uma canção.
            Tanto tempo se passou desde que aquilo aconteceu. Estávamos perdidos no brilho da fama. Você, no exterior, para a gravação do seu próximo clipe, aproveitando que seu álbum era o mais vendido do país. Eu, com todos os flashes e holofotes virados para mim. Era a figura mais presente nas capas de revistas. Fofocas e fãs me rondavam assim como as nuvens ao amanhecer.
            Acho que por procurar tanto brilho, acabamos nos perdendo por ele ter ofuscado o nosso amor. Aquele, aquele verdadeiro, que nasceu enquanto criávamos musicas na varanda de minha casa. Aquele, isso, aquele mesmo, que ouvíamos nossa rádio preferida ao encalço da noite que caia e do calor que nos aquecia. Sim, aquele mesmo, que gravávamos vídeos aleatórios dando entrevistas esporádicas, como se fossemos famosos de verdade.
            E pensar que tudo isso mudou... É, foi difícil no começo. E até hoje é. As coisas mudam numa intensidade que não imaginamos que aconteçam.
            Ao passar de carro em um bar da cidade, a caminho de meu próximo show – que era o mais aguardado do ano –, algo chama a minha atenção. Através dos vidros pretos, que atrapalhavam a minha visão, pude ver que era você. Você mesmo. Com o mesmo olhar que me concedia na nossa cidadezinha. Com o mesmo violão que cantávamos ao entardecer.
            Saio do carro às pressas, esquecendo os meus erros e indo de encontro à pessoa que nunca deveria ter me distanciado.
            Voltamos a ser quem éramos antes. E estávamos nós. Abençoados por Deus. Perdoando uns aos outros.
            Você me abraça e me esquenta com o calor do seu amor. Você me beija com a delicadeza de um beija flor. Nossas mãos se encontram. E de repente me sinto tão forte, após ver que em sua mão, ainda há uma aliança, que cuja imagem reflete um coração.
É quando cai a minha ficha, e percebo que estamos de volta: eu, você e um violão.








Nenhum comentário:

Postar um comentário