Eu, Você e um
Violão
Eu sabia que aquilo que fizemos não
era o certo. E, sim, não foi. Mesmo com as brigas entre os festivais, eu ainda
via um brilho em seu olhar quando contemplava minhas inseguranças. Sim, você
estava em meio a milhares de luzes, mas mesmo assim, eu ainda sentia que aquele
vigor que florescia era também por mim.
Lembro-me
desde o começo. Nos tempos em que não nos conhecíamos, e que você ainda não era
a minha canção.
No começo era só eu, você e um
violão.
Éramos nós, um sonho na cabeça e um
amor no coração. Éramos um só propósito, pedindo a Deus um único destino.
Sentia que aquilo tudo era apenas o prelúdio, e em meu intimo, a nossa vitória
seria alcançada. Quando sentia meus pelos arrepiarem a cada oração, ao
contemplar cada estrela brilhante no céu escuro e me imaginar um dia iluminada
pela multidão, como a estrela de um palco que eu tanto batalhara para
conseguir. Quando ficávamos frente a frente, sentados no chão daquele ambiente
alugado nos fundos de um bar, eu também sentia que tudo aquilo serviria de
esforço para o que estava por vir.
Éramos a
dupla mais famosa da internet, nossos vídeos passaram a bombar e começamos a
ser reconhecidos nas ruas. Eu me lembro quando andávamos sozinhos de mãos dadas
nas ruelas de nossa pequena cidade, quando sentávamos nas montanhas e
observávamos o horizonte. E você sorria para mim, o sol resplandecendo atrás de
seu olhar, que mais uma vez me fitava com amor e com o peito arfando de
felicidade, como se eu fosse uma canção.
Tanto tempo
se passou desde que aquilo aconteceu. Estávamos perdidos no brilho da fama.
Você, no exterior, para a gravação do seu próximo clipe, aproveitando que seu
álbum era o mais vendido do país. Eu, com todos os flashes e holofotes virados
para mim. Era a figura mais presente nas capas de revistas. Fofocas e fãs me
rondavam assim como as nuvens ao amanhecer.
Acho que por
procurar tanto brilho, acabamos nos perdendo por ele ter ofuscado o nosso amor.
Aquele, aquele verdadeiro, que nasceu enquanto criávamos musicas na varanda de
minha casa. Aquele, isso, aquele mesmo, que ouvíamos nossa rádio preferida ao
encalço da noite que caia e do calor que nos aquecia. Sim, aquele mesmo, que
gravávamos vídeos aleatórios dando entrevistas esporádicas, como se fossemos
famosos de verdade.
E pensar que
tudo isso mudou... É, foi difícil no começo. E até hoje é. As coisas mudam numa
intensidade que não imaginamos que aconteçam.
Ao passar de
carro em um bar da cidade, a caminho de meu próximo show – que era o mais
aguardado do ano –, algo chama a minha atenção. Através dos vidros pretos, que
atrapalhavam a minha visão, pude ver que era você. Você mesmo. Com o mesmo
olhar que me concedia na nossa cidadezinha. Com o mesmo violão que cantávamos ao
entardecer.
Saio do
carro às pressas, esquecendo os meus erros e indo de encontro à pessoa que
nunca deveria ter me distanciado.
Voltamos a
ser quem éramos antes. E estávamos nós. Abençoados por Deus. Perdoando uns aos
outros.
Você me
abraça e me esquenta com o calor do seu amor. Você me beija com a delicadeza de
um beija flor. Nossas mãos se encontram. E de repente me sinto tão forte, após
ver que em sua mão, ainda há uma aliança, que cuja imagem reflete um coração.
É quando cai a minha ficha, e percebo
que estamos de volta: eu, você e um violão.
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